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BRA 1 – Bimba

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  • Post category:Biografias

Nome: Ricardo Winicki

Apelido: Bimba

Cidade de nascimento: Rio de Janeiro

Data de nascimento: 08/05/1980

Principal(ais) local de velejo: Búzios

Instagram: @bimbawindsurf 

Youtube: Bimba Windsurf

Categorias: Todas

Bimba veleja em todas as categorias, até mesmo sem prancha :^)

Resultados e Conquistas:
Bimba tem o registro BRA 1 da ABWS com absoluto mérito. Além de Tricampeão do Mundo, é o atleta brasileiro que tem a maior hegemonia do esporte nacional, são 23 títulos! É também o maior medalhista Pan-americano de todos os esportes brasileiros, com 4 ouros e 1 prata. Participou de 5 jogos olímpicos dos quais competiu em 4 finais; tem 7 títulos sul-americanos, 1 norte-americano, vice campeão europeu e vários pódios em copas mundiais de vela. Em 2017 foi técnico da equipe chinesa de vela olímpica e do vice campeão mundial.

Ano

Evento

Título conquistado

 RESULTADOS OLÍMPICOS
2016 Olimpíadas do Rio de Janeiro 7º Lugar
2012 Olimpíadas de Londres 9º Lugar
2008 Olimpíadas de Pequim 5º Lugar
2004 Olimpíadas de Atenas 4º Lugar
2000 Olimpíadas de Sidney 15º Lugar
  ALGUNS OUTROS RESULTADOS
 2013  Copa Mundial na China  2º Lugar
2008 Regata de Hyeres – Holanda 1º Lugar
2008 Campeonato Europeu 2º Lugar
 2007  Regata da Holanda  1º Lugar

Bimba dedica sua vida ao windsurf, tanto participando em competições, tanto quanto como treinador de outros atletas de alto nível. Mantêm também o Búzios Vela Clube (BVC), onde funciona uma escola de windsurf e onde desenvolve um trabalho social entre jovens carentes para se envolverem no esporte. Em 2017 foi treinador da equipe da província chinesa do atleta Ai Chen Wang, o melhor velejador daquele país nos últimos 12 anos. Levou uma atleta de sua equipe ao bronze dos Jogos Chineses de 2017 e a se tornar integrante da equipe nacional. Neste mesmo ano, treinou o melhor velejador egípcio da atualidade, Mohammed Elsafty, que se tornou medalhista de bronze no último campeonato Sul-Africano.

Bimba campeão na Holanda Bimba no BVC com alunos Bimba jovem em 1995 no pódio

Bimba também assina produtos de sportswear e de windsurf. Com sua experiência de tantos anos, desenvolveu um trapézio ultra leve e que atende às exigências dos atletas de alto nível.

Bimba Windsurf

 

Bimba carregando o equipo

 

A ABWS fez uma entrevista com Bimba, conforme segue, como uma maneira de vermos sua biografia de forma mais interativa.

P: Com que idade começou a velejar e como?

R: Comecei a velejar com 11 anos, em 1991. Eu morava em Cabrália em 1982 quando meu pai comprou uma prancha de windsurf e eu ainda bebê já chorava na praia pra ir com ele. O material daquela época não dava pra criança usar, meu pai ficou um tempo sem velejar e ao nos mudarmos pro Rio de Janeiro, em 1991, ele voltou a praticar e eu tive as primeiras aulas. Daí em diante, nunca mais parei.

 

P: Como começou sua busca por ser campeão no windsurf?

R: Fiquei tão amarradaço pelo esporte e me dediquei muito desde as primeiras aulas. Com um mês de prática, os amigos já diziam que eu seria campeão do mundo, que eu iria pra olimpíada e tal. Nunca pensei muito no significado disso, eu simplesmente acreditava no que falavam e fui me dedicando ainda mais com o tempo. Eu só queria velejar 24 horas por dia. O clube funcionava de terça a domingo e por sorte meu vizinho era meu o professor. Fiz amizade com o filho dele, o Boyzinho, e passei a frequentar a casa deles. Isso me deu a possibilidade de pegar a chave do clube para velejar também às segundas e o Boy (pai) que sonhava em levar um filho pra olimpíada, acabou transferindo esse sonho pra mim. Passei a representar a escola dele e me inscreveram nos campeonatos. Com 12 anos eu ganhei meu primeiro campeonato nacional, vencendo os meninos de 15, com 14 eu já ganhava dos de 18 e com 16 já ganhava de qualquer jovem ou veterano. Com 17 anos, em 1997, ganhei minha primeira pré-olímpica, fui Campeão Mundial Júnior e de lá até hoje ninguém mais no Brasil me venceu em campeonatos de prancha olímpica (Raceboard). Ganhei todas as pré-olímpicas, fui o único brasileiro Bicampeão no Mundial da Juventude. Em 1999 ganhei a primeira medalha de prata do windsurf brasileiro num pan-americano e fiquei em 4º lugar na pré-olímpica, com apenas 19 anos. Todo mundo achava isso um absurdo porque eu era muito jovem.  Em 2000 fui pra minha primeira olimpíada e fiquei em 15º lugar. No ano seguinte fui o Vice Campeão Mundial aos 22 anos, o primeiro resultado mais expressivo pro windsurf no Brasil.

 

P: Quem te estimulou e te deu apoio para sua carreira se concretizar?

R: Primeiro meus pais, foram fundamentais por me apoiarem em tudo. Depois meus 3 irmãos, por nunca reclamarem dos meus presentes caríssimos no esporte. Também o patrocínio inicial do Luis Conde, que tinha uma loja de windsurf. Cheguei nos primeiros campeonatos com 8 velas, 4 pranchas, material sobrando, super profissional e ganhei a porra toda [sic]… E meu professor de windsurf, o José Fernando Ermel (o Boy). Depois eu casei com a Paula e toquei pra frente eu e ela.

 

P: Que recado dá pra galera que está começando agora?

R: Procure uma escola de windsurf. Todo mundo que tentou andar de windsurf sozinho praticamente não conseguiu. Se você já veleja recomendo que me procure, porque eu estou fazendo clínicas, sou o atleta mais experiente do Brasil e estou querendo passar essa minha experiência adiante. Posso te ajudar a evoluir de forma correta e muito rápida. Para os novos atletas o conselho que dou é determinação e força de vontade. Perguntaram como eu escolho o biotipo de atleta. Não escolho biotipo, escolho a determinação dele. Quanto mais fissurado, mais ele vai me conquistar e mais apoio ele vai ter no meu projeto social.

 

P: Como é participar de uma olimpíada?

R: Participar de uma olimpíada é uma emoção indescritível, cara! Uma mistura de emoção com adrenalina, frio na barriga, tensão… é você estar representando o seu país, é quando você percebe que está carregando a bandeira do país. Eu acabei vivenciando isso antes nos mundiais da juventude, que é uma mini olimpíada, o maior evento de vela do mundo, depois da olimpíada. Depois teve o pan-americano um ano antes da olimpíada o que me ajudou bastante, então você vai meio que se acostumando a representar o seu país inteiro e não o seu clube ou sua família. Acho que isso é uma emoção indescritível, coisa que pouca gente no planeta conseguiu viver. Ir para uma olimpíada é algo raríssimo, em percentagem é muito pouca gente que consegue chegar lá. Imaginar então quantos atletas conseguiram participar de 5 olimpíadas… essa conta vai para um percentual mais raro ainda.

 

P: Qual a conquista que mais te marcou e por que?

R: Difícil, porque foram muitas conquistas e você passa por estágios, né cara! [sic]. Então meu primeiro título brasileiro com 12 anos de idade eu nunca vou esquecer. Depois o primeiro título brasileiro adulto também nunca vou esquecer, com 14 anos, quando ganhei o carioca também uma semana antes. Logo com 16/17 anos já estava ganhando meu primeiro pré-olímpico… obviamente inesquecível. Título de campeão mundial é inesquecível, bicampeão mundial foi inesquecível. 4º lugar em Atenas, uma derrota, uma dor inesquecível, também importantíssimo na minha carreira porque perder uma medalha na linha de chegada, passar do ouro pro quarto lugar… é um negócio que dificilmente você consegue explicar a dor que é viver isso. São muitos momentos especiais, cada regata, seus detalhes, cada bombeada, cada lágrima e sorriso… está tudo registrado.

 

P: Como é a rotina profissional de um atleta como você? Dá pra chamar de amador, porque você fica fazendo sua paixão o dia todo, velejando por aí?

R: É comum acharem que só jogador de futebol é profissional, isso é uma falta de respeito com diversos outros atletas que se dedicam tanto quanto ou mais, de forma profissional, e mesmo assim são chamados de amadores. As pessoas precisam entender que trabalhamos de segunda a sábado, o dia inteiro treinando. Pela manhã é malhação, pedaladas e musculação igual a um louco, quase sempre chegando ao limite… várias vezes eu já desmaiei e vomitei… depois vai pra água e treina loucamente até voltar pra casa pra dormir. Então perguntam: mas você não passeia quando viaja? Já foi pra 40 países, 20 vezes pra França e não visitou a Torre Eiffel? Não brother! Eu não estou a passeio, não estou em férias! Ano passado (2017) eu só viajei pra China e pelo Brasil porque eu estava sem treinar. Se eu estiver treinando pra ser o melhor do mundo não sobra tempo nem pra dar um beijinho na minha filha de vez em quando. Então… é um trabalho como qualquer outro, onde se cumpre horário e metas. A diferença é que sempre você trabalha no limite do seu corpo. Depois de 25 anos de competições as pessoas perguntam: ahh você não vai pra 6ª olimpíada em Tóquio? As pessoas não entendem o significado disso: ou você treina 24 horas por dia, ou você nem vai! Não estamos falando em ter um bom resultado, mas em nem chegar lá. Não é uma coisa tão simples como colocam nas perguntas.

 

P: como é o seu projeto social? O que faz nele e por que?

R: O projeto surgiu em 2003 quando eu vim morar em Búzios. Eu fui ao BVC pedir o espaço do clube pra uma entrevista com a Globo. O presidente falou comigo me oferecendo assumir a escola de vela no lugar do André Grilo, que tinha falecido, e já que eu estava indo morar lá. Então de repente surgiu uma escola na minha mão. Eu tive que conciliar a escola com a carreira esportiva, não foi fácil coordenar as duas coisas, mas consegui. Aí um desses meninos que velejam em Búzios, em uma outra escola onde o cara não os levava pra lugar nenhum… chegou pra mim e disse: pô cara, meu sonho é arrumar um material de windsurf e poder treinar contigo, só te vejo treinando sozinho. Você é campeão mundial e eu queria treinar contigo. Então eu entrei em casa, peguei um material do meu pai e disse: tá bom, agora eu vou te ajudar. Em dois meses o moleque foi Campeão Brasileiro Júnior!!! Isso chamou a atenção de outro e de outro e surgiu o projeto. Pouquíssimas pessoas me ajudaram, no máximo algo como R$ 100,00 de alguém mais próximo pra consertar uma vela ou coisas assim. As vezes peço uma vaquinha pra galera quando quero levar algum destaque pra um campeonato. Foi assim com o Eré pra ele ir pra Argentina, o Kise deu dinheiro, o Kasuo deu dinheiro, uma galerinha deu dinheiro e ele foi. De lá pra cá, isso não me custou muito (no sentido da dedicação)… se todo atleta do meu nível tivesse feito algo assim, seríamos uma potência olímpica, mesmo sem ajuda do governo. É claro que a ajuda do governo é importante, mas não podemos ficar esperando por ele. Eu cobro que os garotos estejam estudando e cobro a disciplina no treino, além da retribuição de fazer algo pelo clube, ajudar a manter limpo e organizado, atender as pessoas, ser cortês etc. Já colhi muitos frutos, vários títulos importantes foram de garotos que treinaram comigo.

 

P: Alguns dizem que o Windsurf é muito difícil, costumam comparar com kitesurf alegando que este é bem mais fácil. Como você faz ambos e tem experiência com ensino, o windsurf é muito difícil mesmo?

R: Acho que o windsurf é um esporte radical fácil de se aprender. A única diferença é que no kite a pessoa evolui bem mais rápido porque ele te puxa pra fora da água, e o windsurf te derruba na água. Então cada vez que você cai, perde muito tempo levantando, se esgota. O kite é simplesmente uma pipa, você aprende a deixar o corpo duro e a mexer uma alavanca pra lá e pra cá, por isso tem muito acidente, porque muita gente usa se aproveitando da simplicidade. Eu ensino a pessoa a velejar de wind em menos de 20 minutos e o kite precisa de uns dois dias para a pessoa ir e voltar. Mas a evolução no wind é mais difícil, leva bem mais treino pra pessoa dar um gybe certinho, por o pé na alça e tudo mais.

 

P: Você namorou Paula já de bem jovem. Como ela também veleja, era um requisito seu ter uma esposa no esporte? Juntar duas paixões?

R: Eu lembro da Paula no primeiro dia em que ela foi lá fazer uma aula de windsurf e depois acabamos indo juntos com um grupo pra Araruama… viramos amigos, depois melhores amigos e depois namoramos. Eu vivia 24 horas da minha vida velejando, então não procurei uma namorada que veleje, acho que foi a consequência uma que veleje me acompanhar, caso contrário como arrumaria uma namorada se estava o dia todo dentro d’água? (risos) Tinha tudo pra dar certo, ela velejava comigo na Baia de Guanabara de segunda a segunda. Nenhum velejador de barco treinava como nós. Ela aprendeu a velejar com 28 anos e se tornou um fenômeno, poucos no Brasil dão um gybe como ela! Ela é Bicampeã Sul-americana, Bicampeã Brasileira!